Araucária financia Projeto Interinstitucional Participativo de Enfrentamento Climático que foca no atendimento das demandas das regiões vulneráveis 11/07/2025 - 02:56
O Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação (NAPI) de Emergência Climática, implantado pela Fundação Araucária, envolve oito universidades e cerca de 60 pesquisadores. Tem como principais objetivos o desenvolvimento de estudos e projetos de tecnologia e inovação visando avaliar o impacto das mudanças climáticas no Estado. Na Universidade Tecnológica Federal do Paraná, em Curitiba, o trabalho é voltado para o eixo 5, que é o eixo de Comunicação e Educação Ambiental Climática, mais especificamente com o conceito da Justiça Climática. Com isso, foi desenvolvido um Modelo Interinstitucional Participativo de Enfrentamento Climático, aplicado em contextos de pré e pós-desastres, com perspectiva de expansão para todo o Paraná.
A iniciativa resulta de uma articulação entre a UTFPR, a Defesa Civil Municipal e lideranças comunitárias, com foco no fortalecimento do Climate Emergency Action Literacy (letramento climático para ação em emergências). O modelo foi implementado em territórios-piloto, como Vila Torres e o Parque Linear Arthur Bernardes, ambos em Curitiba.
Utilizando metodologias participativas como Jane’s Walk, Cartografia Social e análise geoespacial por meio do sistema QGIS, foi possível mapear zonas de alta vulnerabilidade climática. Os dados subsidiaram a tomada de decisões da Defesa Civil, orientando a definição de rotas de fuga, pontos de encontro, locais de abrigo, instalação de sirenes de alarme, entre outras ações essenciais. Além disso, a construção colaborativa fomentou relações de confiança com as comunidades locais.
“Os NAPIs oferecem oportunidades e desafios em pesquisa e inovação para criação de riqueza e bem-estar. E é o que o de Emergência Climática também prioriza em suas ações, ou seja, o desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação voltadas a essa área”, destacou o presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig.
A iniciativa
Essa iniciativa é voltada para as populações localizadas em áreas de risco e mais vulneráveis. No contexto urbano, elas estão mais sujeitas a serem afetadas pelos desastres provocados pelas mudanças climáticas, pois geralmente as áreas que são mais irregulares e nas quais acontecem as enchentes, são habitadas por populações vulneráveis.
Por este motivo, uma ação começou a ser realizada com essas pessoas e foi escolhida uma comunidade que os pesquisadores já tinham um contato anterior com as lideranças da comunidade. “Isso porque o poder público e a defesa civil sozinhos não iam conseguir agir de forma eficiente se a população local não estivesse bem preparada. Então, estamos trabalhando com a questão do letramento climático, isto é, a educação da população, não só das comunidades, mas em geral. Percebemos que existe uma desinformação, uma confusão de conceitos em relação às mudanças climáticas e também existe outra coisa muito importante, que é uma fragmentação do conhecimento, isto é, a pessoa entende que existem desastres, mas não entende como esses desastres podem lhe afetar pessoalmente”, informou a coordenadora do projeto e professora da UTFPR, Libia Patricia Peralta Agudelo.
Etapas do projeto
O projeto foi dividido em várias fases: a primeira voltada ao letramento climático, na qual foi aplicado um questionário para quase 500 pessoas, em várias faixas etárias, para entender o que estava acontecendo, o porquê de a mensagem não chegar ao público-alvo. A partir da análise realizada com as respostas dos questionários, o foco foi em estabelecer contato com essa área piloto e levar o letramento de uma forma que fosse compreensível.
Em um segundo momento foi verificado que também precisaria ser realizada uma escuta ativa com a população, no sentido de não chegar local ensinando apenas, mas também ouvindo onde que os moradores percebem os problemas da vila ou onde que eles são mais afetados quando acontece uma enchente, dentre outras situação.
“Essa metodologia que levamos para fazer essa escuta ativa foi o que chamamos de cartografia social participativa. Com isso, em um grande mapa, as pessoas vão marcando várias questões em relação ao seu território, em relação às demandas que eles têm junto ao poder público, ou demandas de urbanismo, de melhoria qualidade de vida, segurança, etc. E, por último, a população aponta onde ela observa as questões que foram conversadas com ela em relação ao letramento climático. Apontam onde acontecem as enchentes, locais que mais existe lixo espalhado e que podem piorar a questão das enchentes”, informou Libia.
Com isso, o projeto chegou na terceira fase que é a que está em desenvolvimento neste momento, e junto com a Defesa Civil, são planejadas ações de mitigação pré e pós-desastre. Então, os envolvidos na iniciativa estão usando os resultados para retornar à vila, atender ao que as pessoas falaram e agir de duas formas. Uma delas é planejar as ações de pós-desastre, localizar os locais de abrigo, as rotas de fuga, as sirenes e onde que devem ser colocadas. E a outra ação é o uso desses dados, as demandas e observações da população local para que possa ser feita uma gestão de riscos, no sentido de informar o poder público onde que estão os maiores problemas e apresentar as soluções.
“A última fase do projeto é que esta metodologia se torne um modelo e que seja replicado nas várias comunidades e regiões vulneráveis da cidade, atendendo então às demandas da população local, da defesa civil e orientando o poder público nas suas ações em campo, levando também esse modelo para todo o Estado. O apoio da Fundação Araucária para a realização dessa iniciativa está sendo fundamental para seguirmos com o desenvolvimento e êxito desse projeto tão gratificante de ser aplicado”, finalizou a coordenadora.
Fotos: Arquivo do NAPI - Emergência Climática.