Paraná é o segundo maior polo de tecnologia do país em faturamento 18/08/2020 - 17:50

O Paraná ultrapassou estados com tradição no setor de tecnologia como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul e conquistou a segunda posição no ranking de faturamento em 2019. 


As 19,6 mil empresas de Tecnologia da Informação (TI) do Paraná faturaram, no ano passado, R$ 21,2 bilhões, valor que ficou abaixo apenas do estado de São Paulo, que concentra quase metade das empresas do setor. Enquanto na média nacional houve queda no faturamento, o Paraná apresentou o melhor desempenho do País, com crescimento de 25,6% com relação ao ano anterior.


É o que mostra a pesquisa Tech Report 2020 da Acate, Associação Catarinense de Empresas de tecnologia em parceria com empresa de softwares de big data Neoway e a Finep, estatal de financiamento à ciência. O estudo, lançado na última semana, levou em consideração o número de empresas inscritas em fontes de dados públicos como Receita Federal e Juntas comerciais das 27 unidades da federação.

Na pesquisa, o índice de produtividade na área de TI, que o Estado também lidera, é calculado considerando a razão entre o faturamento médio e a média de colaboradores por empresa. Com isso, a produtividade do setor no Paraná chegou a R$ 90 mil no ano passado, valor bem acima da média brasileira, de R$ 52 mil, e de Santa Catarina, que vem na segunda posição, com R$ 77 mil.


O processo histórico


A posição atual conquistada pelo Paraná no setor de tecnologia começou na década de 80. Um processo induzido e planejado pelo esforço conjunto da academia, iniciativa privada e poder público. Vários personagens importantes fazem parte desta história entre eles Kival Weber, que atualmente é conselheiro da BRAFIP (Associação Brasileira de Fomento à Inovação em Plataformas Tecnológicas) e, na época, foi secretário especial de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia. 


Ainda no ministério, foi um articulador importante para a realização do Projeto de Informática Industrial, uma das primeiras iniciativas que tinha como objetivo, já naquela época, transformar o Paraná em um polo de informática industrial. Na década de 1990, criou o CITS (Centro Internacional de Tecnologia de Software), uma importante contribuição para o avanço no setor de tecnologia paranaense relatada na entrevista a seguir.


Entrevista
Fundação Araucária: O Paraná se tornou o segundo maior polo de tecnologia do país em faturamento.  Em sua opinião a que se deve este avanço?
Kival Weber
– O Paraná é tanto o segundo maior polo de tecnologia do país em faturamento (atrás apenas de São Paulo), quanto a UF que lidera a produtividade no setor de tecnologia, considerando a razão entre o faturamento médio e a média de colaboradores por empresa. O estudo também mostra, com base em dados disponíveis até 2018, que o Paraná é o segundo estado com maior crescimento no número de empregos na área (o primeiro é a Bahia). Na minha opinião, estes avanços se devem a uma “vontade” expressa na década de 1990 – não uma vontade política, mas uma “vontade de pessoas e instituições da Tripla Hélice” (Academia, Governo e Indústria), que foi disseminada nas principais regiões do estado e não apenas em Curitiba. Na época, foi criado o CITS – Centro Internacional de Tecnologia de Software, por mim, com apoio determinante do visionário Ramiro Wahrhaftig, atual presidente da Fundação Araucária, e a execução bem-sucedida do falecido Dr. Roberto Antonio Rodrigues de Almeida no chamado Projeto Classe Mundial em Software.


Fundação Araucária: O senhor faz parte da história deste movimento para que o Paraná atingisse este patamar. Houve toda uma mobilização que iniciou da intenção do poder público, empresários e das universidades, para transformar o Estado em um polo de informática. Na sua opinião, todo este movimento foi, de certa forma, um processo induzido e não espontâneo?
Kival Weber
– Na década de 1990, a gestão do projeto “Classe Mundial em Software” foi baseada no ciclo de Deming, ou método do PDCA (P – Plan, planejar; D – Do, executar; C – Check, checar, medir; A – Act, agir corretiva e preventivamente), assim, esse empreendimento foi induzido desde a sua origem e não espontâneo.


Fundação Araucária: Entre os principais desafios para ter este polo de informática estava a falta de mão de obra qualificada. Como foi sua atuação neste processo?
Kival Weber
– A Academia, com destaque na década de 1990 para a Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, o então CEFET-PR e a UFPR, soube prover a mão de obra qualificada para enfrentar esse desafio. Eu nunca fui professor aqui no Paraná, fui apenas o mentor estratégico que procurou articular as ações da Tripla Hélice neste sentido.


Fundação Araucária: Que outros atores tiveram importante papel neste processo e que, junto com o senhor, fizeram parte desta história? 
Kival Weber
– Na Indústria: dentre outros, Roberto Almeida, Guilherme Lorenzi, Rui Krelling, Gilson Fonseca, Maria Tereza Anastácio e Luiz Márcio Spinosa/ CITS - Centro Internacional de Tecnologia de Software, Ramiro Wahrhaftig, Carlos Sergio Asinelli e Afonso Celso Koehler de Camargo/FIEP CITPAR - Centro de Integração e Tecnologia do Paraná (com o apoio de Francisco da Cunha Pereira/Gazeta do Povo), Tadeu Felismino/ADETEC – Associação do Desenvolvimento Tecnológico de Londrina (com apoio de João Milanez/Folha de Londrina), Hélio Rotenberg/Positivo Informática, Marcel Malczewski e Wolney Betiol/Bematech, Sérgio Mainetti/Visionnaire, além dos presidentes da ASSESPRO-PR daquela época. No Governo: dentre outros, Ramiro Wahrhaftig/ presidente do TECPAR e posteriormente seja como Secretário de Educação seja como Secretário de C&T do Paraná, Mauro Nagashima/TECPAR, Gina Gulineli Paladino/Incubadora de Empresas do TECPAR, Paulo Miranda, Danilo Scalet e Cristina Filipak Machado/CELEPAR, Maria Elisa Ferraz Paciornik/CIC (atual Agência Curitiba de Desenvolvimento), Alceni Guerra/prefeito de Pato Branco. Na Academia: dentre outros, o vice-reitor Ramiro Wahrhaftig e o reitor Euro Brandão/PUCPR, Ataíde Ferraza, Flavio Bortolozzi e Douglas Renaux/CEFET-PR (atual UTFPR), Sérgio Scheer/UFPR.


Fundação Araucária: Há outro fator importante que gostaria de destacar?
Kival Weber
– Na década de 1990, também foi importante para o sucesso do Projeto “Classe Mundial em Software” a aliança do Paraná com o IC2 Institute (ic2.utexas.edu), da Universidade do Texas em Austin - no qual Ramiro Wahrhaftig e eu fomos agraciados no ano 2000 como IC2 Fellows.
No Estado do Paraná, o Projeto “Classe Mundial em Software” inspirou-se em Rosabeth Moss Kanter, renomada professora da Harvard Business School, que criou o conceito de “classe mundial” (ver seu livro “Classe Mundial - Uma agenda para gerenciar os desafios globais em benefício das empresas e das comunidades”, Campus, 1996). Este projeto baseou-se no modelo dos 3C (Conceitos, Competência e Conexões), de Kanter, visando à especialização de regiões e negócios paranaenses nestes 3C - para que as empresas de software daqui pudessem competir no mercado local e global. Ref.: Weber, Kival C. and Roberto A. R. Almeida. “The Making of World-Class Software Regions and Businesses in Parana, Brazil”. In: 2nd International Conference on Technology Policy and Innovation (LISBON’98). Proceedings, Lisbon, Aug. 98. 
Nos anos 1990, a Internet (usada na Academia - RNP) começou a ser difundida nas empresas, que foram apoiadas nisso pelo CITS no âmbito do programa Softex 2000. Também, investiu-se na Melhoria da Qualidade de Software no projeto Rumo à ISO 9000. Ref.: Weber, Kival C. and Mark Pinheiro. “Software Quality in Brazil”. The Institute of Quality Assurance (IQA). Quality World Magazine, Volume 21, Issue 11, London, England, Nov. 95.

**Kival Weber é engenheiro de Comunicações – IME (Instituto Militar de Engenharia), Mestre em Engenharia Elétrica – COPPE/UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Especialista em Teleinformática – UnB (Universidade de Brasília). Nos anos 1980, foi subchefe do Departamento de Processamento de Dados da EMBRATEL (Empresa Brasileira de Telecomunicações) e, no Governo Federal, foi secretário de informática da SEI (Secretaria Especial de Informática) e SEPIN (Secretaria de Política de Informática). Na década de 1990, foi dirigente de empresa de software, criador do CITS (Centro Internacional de Tecnologia de Software), diretor presidente da SOFTEX (Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro). No ano 2000, participou do Programa Internacional de Gestão “Globalizing the Brazilian Corporation in the 21st Century” no IMD (International Institute for Management Development) em Lausanne, Suíça e foi agraciado como um “IC2 Fellow” do IC2 Institute (The University of Texas at Austin). De Dez 2003 a Dez 2014, foi coordenador executivo do programa MPS.BR (Melhoria de Processo do Software Brasileiro). Desde 2015, é coordenador executivo do projeto MGPDI (Modelo de Gestão da Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação nas organizações) < www.mgpdi.org.br > e é conselheiro da BRAFIP (Associação Brasileira de Fomento à Inovação em Plataformas Tecnológicas) < www.brafip.org.br >. É tradutor do livro “A Sociedade da Informação como Sociedade pós-Industrial”, de Yoneji Masuda, e coautor de quatro livros sobre Qualidade de Software. Publicou mais de cem artigos técnicos e relatos de experiências sobre Qualidade de Software e Gestão da Inovação, no país e no exterior.